quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Ciclovias, marginais e o chororô paulistano

Foto de William Cruz. Site Vá de bike.


Olá queridos leitores!

Quase um ano depois volto a escrever nesta bodega. Ultimamente andei concentrada em outras atividades, mas voltei. Antes tarde do que nunca.

E nesta volta quero falar sobre alguns assuntos que estão enchendo o meu saco nos últimos meses com as reclamações das pessoas ao meu redor. Como moro em São Paulo, obviamente que estou falando das ciclovias e da redução da velocidade nas Marginais Pinheiros e Tietê.

Primeiro, quero deixar claro algumas coisas. Eu não tenho carro (aposto que continuou cantando "Lepo Lepo" mentalmente), não tenho bike (nem sei pedalar, mas quero aprender em breve, a bicicleta é o futuro da nação) e sou usuária do deficiente transporte público da cidade de São Paulo (os corredores de ônibus facilitaram a minha vida e de muitas pessoas também).

Durante estes últimos meses escutei o chororô de muita gente reclamando de tudo:


"Pra quê ciclovias diminuindo ainda mais o espaço dos carros e aumentando o trânsito!"
"Ciclovias em subidas, em frente a colégios, que absurdo!"
"Deveria investir em transporte público e não em ciclovias!"
"Além das ciclovias, agora o prefeito quer diminuir a velocidade das marginais só para aumentar o trânsito!"
"Diminuir a velocidade nas marginais é burrice. Ficaremos como tartarugas!"

E etc, etc, etc.

Para início de conversa, eu sou a favor das ciclovias e da diminuição da velocidade das Marginais (embora, não utilize nenhuma delas no meu dia-a-dia). Não costumo debater muito não, pois sei que nada do que eu disser fará com que as pessoas mudem de opinião. E ainda por cima é capaz de me chamarem de "petista", por causa do prefeito Haddad. 

A lei de Godwin no Brasil mudou de sentido. Se antes os debates sobre QUALQUER COISA terminavam em "nazismo, holocausto, Hitler", agora terminam em "Dilma, Lula, culpa do PT"

O prefeito Haddad está ferrado desde quando foi eleito. É óbvio que a mídia (bem sustentada pelas empresas de automóveis) e os dependentes de carro iriam chiar como se estivessem tendo as pernas amputadas. Aliás, existem muitas coisas que podem criticar na gestão Haddad, mas nestes pontos não vejo porque criticá-lo. Pelo contrário, acho que essas ações trouxeram questionamentos importantes: por que as ciclovias são essenciais na cidade? por que diminuir a velocidade nas marginais?

Creio que a resposta para as duas perguntas esteja na mesma necessidade de se ter assentos preferenciais no transporte público: civilizar as pessoas. Termos mais respeito e cuidado com o outro. Exercitar a empatia nossa de cada dia. Pensar coletivamente e não apenas no seu umbigo. Nascemos, viveremos e morreremos em sociedade, quer queira ou não. E todo mundo sabe que se não existisse uma lei obrigando as pessoas mais jovens, saudáveis e fortes a ceder o assento para idosos, grávidas, pessoas com crianças de colo, deficientes em geral, dificilmente veríamos tanta gentileza por aí. Mesmo existindo a lei já é complicado. Até briga e tapa por lugar acontece. E eu já vi!

Com a ciclovia é a mesma lógica. Carros maiores, potentes, com mais chances de matar alguém devem zelar pelos veículos menores. Se os motoristas respeitassem os ciclistas no trânsito, não teria a necessidade de ter ciclovias. Da mesma forma, se os motoristas não corressem em alta velocidade em vias locais, ocasionando acidentes, atropelamentos e respeitassem os códigos de trânsito, não seria necessária esta ação. Aproveitando, segue link de um excelente texto desmistificando vários argumentos contra os limites de velocidade nas Marginais.

Sei que muita gente, mesmo com estes argumentos vai continuar considerando estas ações ruins e que o melhor seria dar qualidade ao transporte público. Também acho que o transporte público deve melhorar e facilitar o acesso a todos os cantos da cidade. A cidade deve ser de todos e não dos carros, diminuindo o transito. Mas até que ponto as pessoas querem realmente fazer alguma coisa para mudar isso? Ter carro é muito legal, é uma grande conquista material e é extremamente útil em diversas situações. Eu mesma penso em ter um carro nos próximos anos. Mas até que ponto um carro é útil sendo usado todos os dias, sem necessidade, apenas por comodidade, entupindo as artérias da cidade e prolongando a ida e vinda pra casa de milhões de pessoas? Acho que devemos repensar muitas coisas.

Assim como espero que os motoristas respeitem a si e o ciclista, também é urgente que AMBOS respeitem o pedestre, o mais vulnerável nesta história toda do trânsito caótico de São Paulo.






2 comentários:

  1. Posso palpitar, Amandinha?

    Não sou contra corredores de ônibus, não sou contra ciclofaixas e, dizem por aí que sou "petralha" (eu nego). :P

    Acho que deva existir preocupação com TODOS, com usuários de transporte público, com pedestres, com ciclistas e, também, com motorista de carros particulares, estes parecem que viraram "vilões" é não é bem assim que deve funcionar.

    Na minha maneira de ver as coisas, o que falta é PLANEJAMENTO para execução de muitas obras que estão ocorrendo nesta gestão. E este meu parecer é baseado em palavras que ouvi em entrevista do Sr. Jilmar Tatto, Secretário de Transportes da cidade de São Paulo, na Rádio CBN, ao afirmar que "existe uma meta de construir 400 km de ciclofaixas na cidade até o fim do mandato, e iremos cumprir... como o volume é grande, podemos cometer erros, e se isso acontecer, voltamos e refazemos" - não exatamente com estas palavras.

    Ou seja, ele afirmou em rede nacional que vai cumprir a meta, não importa como! Isso é falta de responsabilidade! Que demore um pouco mais, mas, que seja feito tudo com critérios! Gastar dinheiro público, ficar ruim, depois gastar de novo para arrumar não é atitude inteligente.

    E sobre a diminuição de velocidade nas Marginais... é bom deixar bem claro que não existe tráfego de pedestres nas Marginais, e a velocidade média em horários de pico já é bem inferior aos 50 km/h decretados agora.

    A prefeitura está desesperada com a redução de arrecadação com a demora no aumento das passagens de ônibus (lembra das manifestações?) e aumento de salários de funcionalismo público... e, ME PARECE que essa redução visa única e exclusivamente o aumento da arrecadação! A indústria da multa é uma máquina de fazer MUITO dinheiro.

    Beijos, mocinha! ;)

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  2. Que bom te ver por aqui, Ricardo!!

    Sua opinião é sempre bem vinda!

    Concordo plenamente com o ponto sobre falta de planejamento. Inclusive já vi ciclofaixa em frente a um colégio na Vila Mariana e achei péssimo, pois dificultava a movimentação de pedestre. Muitas poderiam ser revistas e não somente ser feitas para cumprir metas, talvez, exageradas.
    Sobre a redução da velocidade nas marginais ser induzida por causa da arrecadação de dinheiro com multas, não duvido, creio que também seja uma das motivações, juntamente com os outros motivos explicitados no meu texto e principalmente no link que publiquei que esclarece muitos pontos sobre a necessidade desta ação e de como isso já vem sendo feito ao longo dos últimos governos em São Paulo em outras regiões.

    Acredito que se todos nós fossemos mais conscientes e civilizados no trânsito essas ações não seriam necessárias.

    Beijos, Cachorrão!!! :)

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