quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vivendo em outra época

REPRODUÇÃO DA INTERNET

Em que época você gostaria de ter vivido?

Começo esta postagem com uma pergunta que acredito que muitos já escutaram. Invariavelmente já fiz esta pergunta para muitas pessoas e obtive respostas de todos os tipos. Gente que queria ter vivido nos anos 80, outros na década de 70, outros mais especificamente no Rio de Janeiro da década de 50 e por aí vai.

Na semana passada assisti o filme "Meia-Noite em Paris" do famoso cineasta Woody Allen. Em resumo, o filme conta a história de um roteirista americano chamado Gil Pender (Owen Wilson, aquele moço do nariz ondulado) que viaja para Paris com sua noiva e seus sogros. Mas diferente dos outros, Gil é absolutamente encantado com a Cidade Luz e imagina que a melhor época da história tenha sido os anos 20, época de grandes artistas. Um dia, andando pela cidade, exatamente à meia-noite, Gil entra em um carro que o transporta para a década de 20 no qual acaba conhecendo vários artistas que admira. E esta cena se repete diversas vezes. Daí pra frente acontecem muitas coisas e as reflexões vão aparecendo. Mas não vou prolongar muito este resumo para não ser SPOILER. 

No entanto, ao assistir o filme me veio uma pergunta: Será realmente que já existiu alguma época de ouro na história da humanidade? Vão pensando aí e depois retorno a esta pergunta.

No filme é citado que o personagem Gil Pender sofre do Complexo da Era de Ouro. Ou seja, uma pessoa que crê que no passado as coisas eram melhores. No entanto, trata-se de um saudosismo por uma época que não viveu. Saudosismo por algo imaginário. 

Creio que todos nós já sofremos deste complexo em algum momento da vida. Quantas vezes não pensamos que a música, a literatura, os programas de televisão eram melhores do que hoje? Quantas vezes não escutamos de amigos que gostariam de ter vivido em outra época? Aliás, eu já pensei assim muitas vezes. Já cheguei a afirmar que nasci na época errada. Mas existe época certa ou errada? 


Cenas de São Paulo, anos 50 / 60



Eu sempre tive um fascínio pela década de 60. Minhas bandas e cantores favoritos são desta época, o futebol brasileiro estava em seu auge, a moda, a maquiagem e a efervescência cultural da década me chamam muita a atenção. Aquela mistura de cabelos escovados com roupas de estampas geométricas e a psicodelia me hipnotizam até hoje. Mas será realmente que era tão bom assim viver naquela época?


Festival de MPB de 1967. Já dá pra perceber que o brasileiro sempre curtiu uma vaia, né. Os comentários saudosistas são os melhores.


Nos anos 60, o mundo estava em Guerra Fria, o Brasil sofreu um golpe militar e transformou-se em uma ditadura, mulheres e negros ainda estavam conquistando direitos (ainda continuam), a desigualdade em nosso país já era muito grande, o acesso as informações era difícil (nem todo mundo tinha televisão em casa), as pessoas fumavam em qualquer lugar, não existia a lei do divórcio, não existia internet, youtube, facebook e tão pouco um blog como este.


Assim como o personagem do filme, nós ficamos impressionados apenas com as coisas boas do passado. Por este motivo fica muito mais fácil sonhar com uma época que não vivemos. O presente é sempre tedioso. Preferimos a fuga para evitar os confrontos com o que não nos agrada. O engano do personagem e que todos nós cometemos também, é que a vida por mais que fosse divertida em outra época (hoje ela também é!), mas quando tudo se tornasse rotineiro nos sentiríamos da mesma forma que nos dias atuais. Afinal de contas na década de 60, eu também teria que estudar (acredito que seria mais difícil), trabalhar, pegar ônibus lotado e nem existiria metrô para me ajudar a ir da zona sul até a zona norte de São Paulo. E muito possivelmente eu iria querer ter vivido na década de 40, sonhando com a Era do Rádio e com os gols do Leônidas da Silva pelo Tricolor.

Voltando a pergunta que fiz anteriormente, acredito que nunca existiu uma época de ouro na história da humanidade. Cada Era teve suas dores e suas delícias. Algumas com mais dores do que delícias, diga-se de passagem. Jamais queria ter vivido na Idade Média, por exemplo. No futuro, talvez daqui a vinte, trinta anos, os dias atuais também serão lembrados com nostalgia por quem viveu e não viveu esta época. Por isso, o melhor é aproveitar o que a nossa Era tem a oferecer.






quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O amor é cego. O amor político então...

Pois é, caros leitores. O amor... Aaaaaahhh o amor!

Existe um mito grego chamado "Eros e Psiquê". Eros, o deus do amor, com vendas nos olhos acertava flechas encantadas nas pessoas para que ficassem apaixonadas. Até que certo dia, acidentalmente, Eros acerta a si mesmo e apaixona-se pela jovem mortal Psiquê. Daí pra frente, acontecem muitas reviravoltas nesta história. Psiquê casa-se às escuras com Eros e fica completamente apaixonada por ele, mesmo sem poder vê-lo. E desta história vem a expressão "o amor é cego". Mas não é somente o amor romântico, bonito e sentimental que é cego. O amor político causa cegueira também. Chega a doer nos olhos de quem enxerga e lê opiniões soltas por aí. E é disso que quero falar agora.

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Não aguento mais os chatonildos metidos a "politizados". De um lado os anti-petistas que sempre arrumam um jeito de colocar a culpa de tudo no PT e em seus correligionários, os clamadores do impeachment da Dilma e do golpe militar, as viúvas do Aécio Neves que ainda acreditam que ele é um exemplo de político e os perseguidores de ex-presidente (entende-se Lula). Gente que parece cachorro louco, espumando raiva e preconceitos por aí.

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Do outro lado vem os petistas e sua incansável perseguição aos tucanos, tentando mostrar ao outro grupo como o PSDB é pior que o PT. Neste grupo temos os defensores de José Dirceu (isso é sério, companheiro?) e abafadores da incompetência administrativa da Dilma. Tristemente ingênuos.

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Em seguida vem os que odeiam políticos. Acham que todos são iguais, PT e PSDB são farinha do mesmo saco, acredita que trouxa é quem vota neles, que o ideal é anular o voto. Esses tipos acham que todos são idiotas, menos eles. Eu penso que todo mundo é idiota, incluindo eles. Reclamar e apoiar voto no "Sr. Ninguém" não resolve a situação. O Sr. Ninguém não governa e não anula eleição.

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Eu me considero esquerdista (em outro momento faço um texto sobre isso), mas a esquerda também não fica atrás nas tolices. Alguns vivem o sonho impossível de uma sociedade socialista/comunista, reclamam de tudo, esperam o candidato ideal que não existe, tem uma linguagem rebuscada para explicar as coisas, vivem dando Ibope ao maluco do Olavo de Carvalho, falam em revolução que nunca existirá. E essa revolução simplesmente não existirá porque o povo não quer revolução nenhuma, camaradas. Enfim, são uns nefelibatas irritantes.

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Aí temos os perseguidores das causas das minorias. Estes são os piores tipos, pois extrapolam a simples visão política, mostram sua ótica desfocada de humanidade. São apenas odiadores imbecis. Fazem piadas preconceituosas, xingam feministas, defensores dos animais, agridem ativistas da causa LGBTT, são racistas e extremamente agressivos. Ah! Sem contar que adoram se fazer de coitados (como é difícil ser homem, branco, heterossexual e rico nesta sociedade!). Enfim, são pessoas escrotas e asquerosas.

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Por fim, não poderia faltar ALGUNS (bem destacado mesmo) defensores das minorias que simplesmente estragam as causas importantes. Muitos extrapolam na chatice querendo enfiar goela abaixo suas opiniões sobre tudo, mostrando-se intolerantes, como em assuntos religiosos, por exemplo. As vezes enxergam pelo em ovo, como no caso das babás dos filhos da Fernanda Lima.

O pior é que tudo isso na maioria das vezes vem acompanhado de clichês e se for no facebook é possível ver imagens montadas (os famosos memes) com textos, as vezes engraçadinhos, mas desgraçadamente de mau gosto.

Sabe o que todas essas pessoas tem em comum? O amor político cego. Aquele amor que tira qualquer racionalidade possível de um debate. É estar verdadeiramente apaixonado por uma ideia que não permite que os defeitos e erros sejam considerados, mas sim, abrandados, perdoados. Aquele amor que te faz pensar com o intestino e não mais com o cérebro. Quanto mais curtidas sua foto ou texto político tem, mas se sente poderoso e com vontade de continuar a soltar chorumes por aí (Ai se existisse a opção descurtir para mostrar a verdadeira realidade! Sonho meu...). Se você não pensa como eu, você pensa como meu inimigo. Você é coxinha. Você é petralha. Você é reacionário. Você é esquerdopata. 

Acho muito bom que possamos expressar abertamente nossas opiniões, claro desde que isso não interfira na integridade física e moral de outras pessoas. Desde que não seja violento e contenha discurso de ódio, pois ai já não é mais expressar uma opinião. Com o avanço da internet, hoje é possível separar o joio do trigo. As ervas daninhas das ervas boas. Nos aproximar mais de quem pensa parecido com a gente. Mas, sei lá, cansei deste tipo de pessoa. Quero que se danem.






Ciclovias, marginais e o chororô paulistano

Foto de William Cruz. Site Vá de bike.


Olá queridos leitores!

Quase um ano depois volto a escrever nesta bodega. Ultimamente andei concentrada em outras atividades, mas voltei. Antes tarde do que nunca.

E nesta volta quero falar sobre alguns assuntos que estão enchendo o meu saco nos últimos meses com as reclamações das pessoas ao meu redor. Como moro em São Paulo, obviamente que estou falando das ciclovias e da redução da velocidade nas Marginais Pinheiros e Tietê.

Primeiro, quero deixar claro algumas coisas. Eu não tenho carro (aposto que continuou cantando "Lepo Lepo" mentalmente), não tenho bike (nem sei pedalar, mas quero aprender em breve, a bicicleta é o futuro da nação) e sou usuária do deficiente transporte público da cidade de São Paulo (os corredores de ônibus facilitaram a minha vida e de muitas pessoas também).

Durante estes últimos meses escutei o chororô de muita gente reclamando de tudo:


"Pra quê ciclovias diminuindo ainda mais o espaço dos carros e aumentando o trânsito!"
"Ciclovias em subidas, em frente a colégios, que absurdo!"
"Deveria investir em transporte público e não em ciclovias!"
"Além das ciclovias, agora o prefeito quer diminuir a velocidade das marginais só para aumentar o trânsito!"
"Diminuir a velocidade nas marginais é burrice. Ficaremos como tartarugas!"

E etc, etc, etc.

Para início de conversa, eu sou a favor das ciclovias e da diminuição da velocidade das Marginais (embora, não utilize nenhuma delas no meu dia-a-dia). Não costumo debater muito não, pois sei que nada do que eu disser fará com que as pessoas mudem de opinião. E ainda por cima é capaz de me chamarem de "petista", por causa do prefeito Haddad. 

A lei de Godwin no Brasil mudou de sentido. Se antes os debates sobre QUALQUER COISA terminavam em "nazismo, holocausto, Hitler", agora terminam em "Dilma, Lula, culpa do PT"

O prefeito Haddad está ferrado desde quando foi eleito. É óbvio que a mídia (bem sustentada pelas empresas de automóveis) e os dependentes de carro iriam chiar como se estivessem tendo as pernas amputadas. Aliás, existem muitas coisas que podem criticar na gestão Haddad, mas nestes pontos não vejo porque criticá-lo. Pelo contrário, acho que essas ações trouxeram questionamentos importantes: por que as ciclovias são essenciais na cidade? por que diminuir a velocidade nas marginais?

Creio que a resposta para as duas perguntas esteja na mesma necessidade de se ter assentos preferenciais no transporte público: civilizar as pessoas. Termos mais respeito e cuidado com o outro. Exercitar a empatia nossa de cada dia. Pensar coletivamente e não apenas no seu umbigo. Nascemos, viveremos e morreremos em sociedade, quer queira ou não. E todo mundo sabe que se não existisse uma lei obrigando as pessoas mais jovens, saudáveis e fortes a ceder o assento para idosos, grávidas, pessoas com crianças de colo, deficientes em geral, dificilmente veríamos tanta gentileza por aí. Mesmo existindo a lei já é complicado. Até briga e tapa por lugar acontece. E eu já vi!

Com a ciclovia é a mesma lógica. Carros maiores, potentes, com mais chances de matar alguém devem zelar pelos veículos menores. Se os motoristas respeitassem os ciclistas no trânsito, não teria a necessidade de ter ciclovias. Da mesma forma, se os motoristas não corressem em alta velocidade em vias locais, ocasionando acidentes, atropelamentos e respeitassem os códigos de trânsito, não seria necessária esta ação. Aproveitando, segue link de um excelente texto desmistificando vários argumentos contra os limites de velocidade nas Marginais.

Sei que muita gente, mesmo com estes argumentos vai continuar considerando estas ações ruins e que o melhor seria dar qualidade ao transporte público. Também acho que o transporte público deve melhorar e facilitar o acesso a todos os cantos da cidade. A cidade deve ser de todos e não dos carros, diminuindo o transito. Mas até que ponto as pessoas querem realmente fazer alguma coisa para mudar isso? Ter carro é muito legal, é uma grande conquista material e é extremamente útil em diversas situações. Eu mesma penso em ter um carro nos próximos anos. Mas até que ponto um carro é útil sendo usado todos os dias, sem necessidade, apenas por comodidade, entupindo as artérias da cidade e prolongando a ida e vinda pra casa de milhões de pessoas? Acho que devemos repensar muitas coisas.

Assim como espero que os motoristas respeitem a si e o ciclista, também é urgente que AMBOS respeitem o pedestre, o mais vulnerável nesta história toda do trânsito caótico de São Paulo.