Mandala (imagem retirada da internet) |
Por Amanda Souza.
Quando pensei em criar um blog, me veio em mente um lugar em que eu poderia falar sobre minhas opiniões, minhas dúvidas, meus prazeres, minhas angústias e minhas poesias. Neste espaço eu seria "eu mesma".
E como minha mente não cessa um segundo fiquei matutando dia e noite, noite e dia, em nomes, palavras, entidades e personagens que pudessem batizar esse trem. Mas só pensava na canção Avôhai de Zé Ramalho. Aliás essa canção lembra-me uma pessoa muito querida. Fabiana é uma ex-colega de trabalho e apaixonada por esta música. E eu a entendo perfeitamente. É uma música encantadora e transcendente.
Escutei essa música várias vezes, li e decorei a letra, e viajei no arranjo de cordas que faz a canção crescer ao longo do exercício da audição. E envolvida nesta experiência sonora, finalmente eu tive um insight: Eureka! Meu blog se chamará "O Indivisível Avôhai". E alguns me perguntaram: por que este nome?
Avôhai é uma das composições da música brasileira que mais provocaram curiosidade acerca de seu significado. Talvez seja a canção mais mistica de toda a história e quase sempre ignoramos a interpretação óbvia dada pelo Zé Ramalho.
Avôhai é a união de avô e pai. Zé perdeu o pai muito cedo e foi criado pelo avô Raimundo para ser médico. O profeta do sertão conta que a música foi soprada em seus ouvidos, após uma viagem lisérgica envolvendo cogumelos (a famosa "amanita"), extraterrestres e mensagens telepáticas.
"O meu velho e indivisível avôhai!" é o trecho que mais me chama atenção. Resume e explica o termo criado por Zé Ramalho. Avôhai é avô e pai ao mesmo tempo. É único e indissociável. Isso também remete as ideias dos índios da cultura pueblo. Estes povos indígenas costumam comer cogumelos com ações supressoras sobre o ego. Para eles o homem é indivisível, enquanto a mulher é divisível. A mulher divide partes de si com o mundo, ou seja, seus filhos.
Mas isso também me lembra Carl Gustav Jung e sua teoria da personalidade. Jung descreve a individuação como um processo no qual a pessoa torna-se si mesma, INDIVISÍVEL e distinta das outras pessoas ou da coletividade. Torna-se única. É um estado de ampliação da consciência no qual o indivíduo identifica-se menos com as condutas e os valores do meio em que vive, embora mantenha relação com estes. É a constante interação entre o ego e o nosso Self (centro da personalidade e de todo potencial energético da psique).
O Self relativiza e equilibra a tensão dos opostos (humano e divino, masculino e feminino, vida e morte, bem e mal etc). Para ficar mais claro, o próprio Jung era categórico ao apontar que a ênfase cristã só no lado do "bem" havia deixado o homem alienado de sua totalidade e por tanto dividido dentro de si. Essa tal parcialidade da consciência acaba sendo compensada pelo inconsciente, buscando assim um equilíbrio. Assim os conteúdos inconscientes reprimidos surgirão de repente na forma de sonhos, imagens espontâneas ou sintomas. Com isso o objetivo dessa compensação é ligar dois mundos psicológicos e essa ponte se faz através dos símbolos, que para serem eficazes, precisam ser compreendidos pelo consciente.
Bom, mas não vou prolongar ainda mais essa conversa, pois não sou junguiana e tão pouco sou uma profunda conhecedora de sua teoria, além disso o próprio processo de individuação é muito complexo para explicar em poucas linhas.
Meu intuito é explicar a minha relação com este novo blog. Neste espaço eu quero mostrar-me inteira, única, sem medo de ser feliz, pois isso é algo que dificilmente consigo fazer no meu trabalho, na minha casa ou com meus amigos na mesa de um boteco ou de uma cafeteria. Aqui eu quero exibir todos os meus lados, vértices e ângulos. Todos os lados da verdade, da mentira e das incertezas. Pois como diz em Avôhai o que é "meio sabido" é sempre "meio pior".
Avôhai - Zé Ramalho