domingo, 8 de dezembro de 2013

O que é que deu? Funk na cabeça!

REPRODUÇÃO DA INTERNET






Por Amanda Souza.


Um dos assuntos que mais gosto de ler e de conversar é sobre música. Amo tanto esse assunto que já tentei aprender a tocar violão. Meu objetivo era tocar samba e rock. Entretanto, por motivos ocultos, parei as aulas, mas pretendo voltar no ano que vem. De toda forma, dentro do universo musical, o que me agrada mais é escutar música brasileira. Acho um verdadeiro absurdo o desconhecimento de muitos brasileiros sobre a música do nosso país. E quero morrer quando escuto tolices de que "o Brasil não tem música que presta", que "só é boa a música estrangeira" e outras imbecilidades do tipo. Isso é de uma limitação inaceitável. 


A música brasileira é uma das mais ricas do mundo ao lado das tradições musicais norte-americana e cubana. E todos esses países tem em comum o fato de terem influência de ritmos africanos. Basta escutar canções de países com pouca influência africana para ver a diferença. 


Obviamente o gosto musical é algo subjetivo e também condicionado socialmente. Dependendo do grupo social em que a pessoa esteja, ela aprenderá a gostar dos gêneros musicais que são apreciados por aquele grupo. Mas é importante ressaltar que ninguém é obrigado a gostar de tudo. Mesmo amando música popular brasileira também tenho meus desafetos musicais. 


Hoje o funk e o sertanejo são os gêneros musicais dos jovens brasileiros. Tenho amigos que apreciam ambos os gêneros ou apenas um deles. No entanto a demonização do funk carioca (existe o funk americano) é muito maior e merece uma atenção. 


Há dois anos li um artigo na Revista Caros Amigos sobre o funk, contando sua história, seus diversos tipos e sua aceitação como manifestação cultural. O autor do artigo fez um paralelo com a história do samba que, por sua vez, somente foi reconhecido como cultura durante o governo de Getúlio Vargas. Para se ter uma ideia, o samba e o tango argentino eram consideradas músicas malditas, de gentalha e com letras sexuais e ritmo visto como lascivo. Mas a ascensão destes gêneros se deu com dois nomes importantes: Noel Rosa e Carlos Gardel. Ambos eram jovens brancos que trouxeram uma roupagem nova a gêneros de origem africana e de gente pobre.


Analisando bem, é mais ou menos o que acontece hoje com o funk. O ponto mais interessante é a construção do estereótipo negativo do funkeiro na mídia. O gênero surgiu nos morros e nas favelas cariocas com letras que falavam sobre a realidade das mesmas: repressão, desemprego, violência e injustiça. Obviamente que a mídia e a industria fonográfica não estão interessadas nestes problemas, tanto que os funkeiros que tocam nas rádios só cantam músicas com letras estúpidas. Além do mais, as reportagens de telejornais sempre associam drogas, violência e promiscuidade com os bailes funk. E sendo assim chegamos no estereótipo do funkeiro criminoso e promíscuo. Mas é bom entender que muitos bailes funk frequentemente tem ligações com traficantes e por motivos óbvios, eles são os donos do dinheiro e por consequência acabam sendo os grandes patrocinadores.


Outro ponto que merece uma discussão é sobre o papel da mulher. Em alguns momentos ela sai do papel de mero objeto de desejo ou de pedaço de carne descartável para o papel de objeto desejante, ou seja, a mulher poderosa que sabe o que quer e do jeito que ela quer e que fala abertamente sobre sexo.


Quem tem facebook já deve ter visto muitas imagens de páginas de rock falando muito mal do funk e sempre de maneira bastante moralista. Acho uma pena ver que o rock que começou como um estilo tão revolucionário e libertador tenha virado um gênero musical de reacionários. Mas confesso que acho graça dessa hipocrisia roqueira já que letras vulgares sempre estiveram presentes em músicas do rock. Será que ninguém, por exemplo, nunca escutou Raimundos ou alguém acha que o lema "sexo, drogas e rock 'n' roll" surgiu do nada? Ah, me poupem.


Eu não gosto de funk e até entendo quem deteste o gênero (mas sem moralismos babacas, é claro). Acho o som esteticamente feio. Detesto a batida e a voz dos cantores do funk. O funk, pra mim, é completamente asqueroso. Muita gente diz que o funk é a "música legítima do gueto, do negro e do pobre" e por causa disso não se pode falar mal do gênero. Sinceramente acho isso uma grande mentira. Vejo mais como uma música pra diversão e com grande apelo entre os jovens. Apelo que o rap, a meu ver, não conseguiu. Além disso existe uma grande adesão da playboyzada que fica ridícula querendo pagar de "V1D4 L0K4 da perifa". Pra mim, não tem nada de periferia. Na verdade, a periferia é só mais um produto de consumo e de ostentação e que ainda ajuda a fortalecer alguns estereótipos sobre a sexualidade, sobre o jeito de falar, etc. É som de Audi rebaixado, de classe média emergente cafona. 


Mas como dito anteriormente, da mesmo forma como aconteceu com o samba e com o tango argentino, acredito na possibilidade do funk ganhar nas próximas décadas uma aparência mais leve e uma sonoridade sofisticada conquistando um lugar de importância na música brasileira. Mas por enquanto isso ainda está muuuuuuuito longe de acontecer. 


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