domingo, 22 de dezembro de 2013

A soberba e o viralatismo brasileiro

REPRODUÇÃO DA INTERNET


Por Amanda Souza.

Na semana passada eu conversava com alguns colegas de trabalho e alguém comentou sobre um vídeo feito por um brasileiro que morava nos Estados Unidos. Neste vídeo o dito cujo aparece dirigindo e tecendo comentários negativos sobre o Brasil e exaltando as conquistas da sociedade americana. Dizia que o Brasil era um "país de merda, do funk, da Rede Globo, que brasileiro só pensa em futebol", meteu o pau no governo e outras coisas do senso comum que já estou cansada de escutar.

Na hora não comentei nada, apenas escutei, como faço na maioria das vezes. Não quis expor minha opinião, guardei só pra mim. Em casa procurei o vídeo mesmo sabendo que passaria mal de tanto nojo que sentiria. Queria vomitar depois de tanto chorume dito no vídeo e também nos comentários. Nem vou compartilhar o vídeo, pois é escroto demais. Não vale a pena.

Como fiquei com a minha opinião engasgada resolvi fazer um textículo sobre isso. Nós brasileiros somos extremistas. Ou somos os melhores ou somos os piores. É oito ou oitenta. Nunca existe o meio termo. Não existe o "quadragésimo nono", o "trigésimo quinto" ou "nonagésimo primeiro" lugar. 

Somos soberbos quando nos ufanamos de ter as melhores praias do mundo, o melhor futebol do mundo, as mulheres mais bonitas do mundo, a maior diversidade ou mesmo quando falamos que o carnaval brasileiro é o maior espetáculo da Terra. Isso mostra o momentâneo enamoramento do brasileiro com a própria existência. Por um instante temos orgulho de sermos quem somos, mesmo que seja exageradamente. Mas também temos muitos problemas e no auge da nossa megalomania o viralatismo rodrigueano entra em ação e devasta tudo. O tal slogan "Eu sou brasileiro e não desisto nunca" vai por terra. A sete palmos do chão. Num piscar de olhos nos transformamos no pior povo do mundo, temos a pior educação do mundo, a pior saúde do mundo, a pior cultura do mundo, enfim, temos a "pior qualquer coisa do mundo". Somos inferiores diante do resto do mundo. Nunca ganhamos um Oscar ou um Nobel. Não somos bons em nada.

Certa vez um rapaz de outro trampo comentou o seguinte: "brasileiro só pensa em futebol, povinho iludido, por isso esse país não vai pra frente". Não me contive e falei: Ah filhote, sinto muito, mas isso que você disse é uma falácia. O inglês, por exemplo, é apaixonadíssimo pelo esporte e ninguém fala isso dos ingleses. Os americanos amam esportes, até os mais idiotas, tudo vira show e ninguém acha isso ruim. Este mesmo colega me respondeu: "Mas eles podem, né". Confesso que fiquei tão decepcionada que nem consegui replicar e pensei: Hã? Como assim? A Inglaterra não tem problemas? Os EUA também não? São perfeitos? Não existem pessoas pobres vivendo na miséria, não existe desigualdade, não existe violência nas grandes cidades, não existe problemas com o sistema de saúde, não existe corrupção e tantas outras coisas? 

Se você que lê este texto pensa assim, mais uma vez, sinto muito, mas você é o iludido da história e ainda por cima sofre de complexo de vira-lata. 

Eu não nego que o Brasil tem problemas, seria burrice dizer isso. Temos muitas questões que devem ser resolvidas e todos nós sabemos disso. Não é a toa que em 2013 tanta gente foi pra rua querendo mudanças. Mas a causa dos nossos problemas não está no funk, na novela das nove, no BBB ou no futebol, mas sim na nossa postura atitudinal na promoção das mudanças em nossa sociedade. Afinal de contas países com povos considerados "cultos" também escutam música considerada "ruim", assistem BBBs da vida e adoram futebol. 

Quando o brasileiro incorpora o viralatismo ele está se entregando, jogando a tolha. É um discurso de desistência e quem desiste nada pode oferecer. É um derrotista. O viralatismo não propõe transformação, novidades, somente depreciação e estagnação. Todo mundo fala: "a educação precisa de investimentos pesados". Ok, concordo plenamente, então vamos cobrar, vamos propor soluções. Só falar e reclamar não adianta. O que percebo é que essas pessoas não querem de fato a mudança. Temem sair da sua zona de conforto. Antes bradavam que o brasileiro era conformista, que não lutava por seus direitos (outra ideia falsa) e quando sai para fazer isso, são vândalos, baderneiros, gente que não tem o que fazer e que atrapalha o trânsito. E tudo isso é dito com a bunda esparramada no sofá e com o controle remoto na mão. 

Pra finalizar, com tudo isso que foi dito, quero apenas dizer que não podemos encarar nossa realidade com o olhar da soberba ou da inferioridade. Devemos ser mais sinceros com o que somos, ou seja, aceitar que o Brasil não é o melhor e nem o pior país do mundo, mas sim apenas mais um país em construção.

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